COBERTURA JORNALÍSTICA E VIOLÊNCIA ESCOLAR: ÉTICA, LIMITES E PREVENÇÃO

Painel na Alesc reúne promotor do Cyber Gaeco, especialistas em saúde mental e jornalistas que vivenciaram tragédias em SC. (FOTO: Rodrigo Corrêa/Agência AL/)

O impacto da cobertura jornalística de atos de violência em escolas foi o tema central de um painel promovido pelo Comitê Integrado para Cidadania e Paz nas Escolas (Integra), nesta quinta feira, no auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

O evento aconteceu no auditório Antonieta de Barros, com as participações do promotor de Justiça Diego Roberto Barbiero, coordenador do Cyber Gaeco, da médica pediatria e psicóloga Catarina Costa Marques e dos jornalistas Felipe Sales Cruz, que em 2023 acompanhou a tragédia da Creche Bom Pastor, em Blumenau, e Fernanda Moro, que cobriu em 2021 o episódio da Creche Pró Infância, em Saudades.

O encontro foi mediado pelo deputado Mário Motta (PSD), com a presença dos deputados Fernando Krelling (MDB) e Paulinha (Podemos).

O pai do menino Bernardo, vítima do ataque em Blumenau, Paulo Edson da Cunha Júnior, também participou, apresentando o projeto “Vamos Salvar o Dia”, que prega a necessidade de os pais se dedicarem mais no relacionamento com seus filhos.

O Integra foi criado em 2023, após a tragédia em Blumenau, lembrando que antes, em 2021, outro episódio trágico já havia ocorrido, com o propósito de articular políticas de enfrentamento à violência nas escolas.

Mais de 30 instituições públicas e acadêmicas integram a iniciativa, que já resultou em quatro leis de autoria coletiva dos parlamentares voltadas à segurança escolar.

A deputada Paulinha destaca essa ação “como política pública que persegue o livramento, o afastamento de Santa Catarina deste triste fenômeno da violência escolar

Já o deputado Fernando Krelling, professor de Educação Física defendeu, a par das leis, o esporte como ferramenta de inclusão:

“A prática esportiva aproxima, elimina o bullying e cria vínculos entre os estudantes.”

Monitoramento digital e prevenção de ataques

O promotor Diego Barbiero explicou como o trabalho de investigação digital conduzido pelo Cyber Gaeco, coordenado pelo Ministério Público, com a participação das polícias civil, militar e penal, tem sido fundamental para identificar e neutralizar ameaças antes que tragédias ocorram.

“Várias iniciativas criminosas foram detectadas e neutralizadas. Não divulgamos números por sigilo, mas o resultado é concreto”, afirmou.

Ele também alertou  a necessidade de cuidados no trato da informação em episódios trágicos como os de Saudades e Blumenau. E especialmente em não enaltecer os agressores, que podem estimular o chamado efeito de contágio imitador, ou“copycat”, que serve de estimulador a outros possíveis agressores, em razão da notoriedade obtida por quem praticou crimes.

Família e saúde mental: o papel dos pais

A médica e psicóloga Catarina Costa Marques destacou que a violência escolar tem raízes complexas, ligadas à saúde mental, bullying e vínculos familiares fragilizados.

“Muitos pais acreditam que devem preservar a privacidade dos filhos nas redes, mas é essencial conhecer os ambientes digitais em que eles circulam e estabelecer limites.”

Ela também fez um apelo à imprensa:

“As coberturas devem priorizar as vítimas e os exemplos positivos, nunca os agressores.”

Jornalismo com sensibilidade e empatia

A jornalista Fernanda Moro relembrou sua experiência ao cobrir, em 2021, a tragédia em Saudades:

“Durante o deslocamento, escutando rádios locais, percebi a dimensão do ocorrido. Pensei em me colocar no lugar das famílias e agir com respeito e sensibilidade.”

Para ela, o desafio da cobertura é manter a humanidade mesmo em meio à tragédia.

“Nosso papel é informar com responsabilidade, mostrando também a atuação das forças de segurança e as histórias das vítimas.”

“Tragédia não é pauta do dia a dia”

O jornalista Felipe Sales Cruz, que cobriu o ataque à creche de Blumenau, destacou o impacto emocional desses trabalhos:

“A vivência da cidade torna tudo mais difícil”, diz ele. A responsabilidade é imensa, e toda busca de informação envolve decisões delicadas. “A sensibilidade daquele dia vai ter que perdurar”, diz ele, referindo-se às vezes em que ele ainda terá que voltar a tratar o tema da tragédia. “A pauta de um massacre não é uma pauta do dia a dia”.

Integra: união por escolas mais seguras

O painel faz parte da série de ações do Integra, que tem como foco formar uma rede permanente de prevenção, acolhimento e segurança nas escolas catarinenses.

A proposta é articular órgãos públicos, famílias, imprensa e educadores na construção de uma cultura de paz.

 

 

 

 

 

 

.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu comentário
Por favor, informe seu nome