
Crescer vendo os pais construindo e consolidando uma propriedade é a realidade de muitos jovens catarinenses. Mas quando chega o momento da sucessão familiar rural, o desafio é grande: quem vai assumir os negócios e garantir a continuidade da produção?
Pensando nesse cenário, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) promoveu, na manhã desta quinta-feira, o Seminário Regional sobre Sucessão Familiar no Setor Agropecuário. O evento foi organizado pela Comissão de Agricultura e pela Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira.
Jovens no campo: realidade e preocupações
Segundo o último Censo do IBGE, mais de 180 mil jovens entre 18 e 29 anos vivem no campo em SC. Em 1950, 77% da população do estado morava na zona rural. Hoje, o índice é inferior a 16%.
Para o presidente da Comissão de Agricultura, deputado Altair Silva (PP), o desafio é transformar herdeiros em sucessores.
“O sucessor é aquele que se prepara, que se capacita, que estuda e se envolve com os negócios da família para suceder. Estamos vivendo uma verdadeira transformação no campo com o período da internet e precisamos de jovens preparados, vocacionados e principalmente instruídos. Por isso, a Comissão de Agricultura está fazendo esse trabalho para fortalecer as políticas públicas para sucessão das propriedades rurais”, disse o parlamentar.
O risco da falta de planejamento sucessório
Um estudo da Fundação Dom Cabral em parceria com a JValério mostra que mais de 80% das empresas do campo ainda são lideradas pelos fundadores. Apenas 16% chegam à terceira geração e menos de 1% sobrevivem além da quarta.
O último Censo Agropecuário no país também aponta que um a cada quatro produtores tem mais de 65 anos.
O administrador de empresas Leandro Vieira reforçou que a sucessão precisa ser planejada com antecedência:
“Quando falamos em sucessão familiar no agronegócio, precisamos pensar o que podemos fazer para que essa transição, da família fundadora da propriedade, possa transcender na história passando o bastão para os seus sucessores de forma organizada. Digo que o primeiro passo para uma transição de sucesso é simples: uma simples conversa.”
Vieira afirma que há o choque de gerações, da agricultura de precisão do século passado, com a agricultura familiar de hoje. Sem planejamento, a transição tende a gerar conflitos. “Qualquer processo sucessório bem sucedido precisa iniciar entre três a cinco anos antes da passagem do bastão.”
Santa Catarina: 375 mil propriedades, mas só 5% com sucessão assegurada
Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Santa Catarina conta com 375 mil propriedades cadastradas, mas apenas 5% possuem um processo sucessório estruturado.
A importância desse debate é reforçada pelo impacto econômico: o agronegócio responde por 30% do PIB catarinense, segundo a Cidasc, sendo um dos principais motores de geração de empregos no estado.
Internet e energia: ferramentas para fixar jovens no campo
Entre os fatores que influenciam a permanência da nova geração no meio rural, estão a energia trifásica e a internet de alta velocidade.
Na última quarta -feira foi apresentada a Bancada do Oeste, pelo secretário de Estado da Fazenda, Cleverson Siewert, o projeto de internet rural. Serão aproximadamente R$ 600 milhões para levar o acesso às comunidades interioranas. O projeto prevê R$ 350 milhões para a instalação de antenas em fibra óptica.
“Acreditamos que daremos um passo muito importante nos próximos meses. Com essas duas ferramentas, energia trifásica e internet de alta velocidade, vamos viver uma verdadeira revolução no campo. Esses dois instrumentos, além da capacitação, vão dar a possibilidade do jovem permanecer no meio rural”, enaltece o deputado Altair Silva.
O secretário estadual de Jovens da Fetaesc, Dener Civiero, enfatiza a necessidade do avanço na comunicação, na tecnologia. “A internet é essencial para que se possa produzir. São necessárias as legalizações, como as guias de trânsito de animais, as notas fiscais de produção. Infelizmente nosso estado ainda tem déficit em alguns locais em relação à internet.”
Histórias que inspiram: a volta de Bruna à propriedade da família
Na comunidade da Linha Olinda, a jovem Bruna Spindolla decidiu deixar a vida na cidade e retornar à propriedade da família, que já está na terceira geração de produtores.
“Tudo é decidido em família. O diálogo e a modernização nos dão condições de continuar. Hoje a tecnologia faz diferença para que o jovem queira permanecer no campo”, afirmou Bruna.
Seu pai, Airton, emociona-se ao ver a filha dar continuidade ao legado:
“É muito bom ter ela de volta. Sem a Bruna, não conseguiríamos seguir. Agora ela profissionalizou a propriedade e já pensamos na quarta geração.”
Lei de incentivo ao empreendedorismo jovem no campo
A Alesc também aprovou a Lei nº 18.979/2024, que institui a Política Estadual de Estímulo ao Empreendedorismo do Jovem do Campo. Entre os objetivos estão:
preparar jovens para o papel estratégico no desenvolvimento rural;
estimular estratégias de governança familiar;
garantir o acesso à terra para futuras gerações.
Proposta de isenção de imposto na sucessão
Encerrando o seminário, os participantes sugeriram a criação de uma lei para zerar o imposto de transferência de propriedade nas sucessões familiares.
“Nada mais justo que o estado abrir mão desse imposto. É uma ação importante que vamos dialogar com o governo, construir, até mesmo com o governo federal ações para que possamos acabar com esse tributo quando for na sucessão familiar”, destacou o deputado Altair Silva.
o familiar.”