JUDICIÁRIO DE SC PROMOVE 1º ENCONTRO DE JUÍZES CORREGEDORES DE UNIDADES PRISIONAIS

Evento inaugura espaço permanente de debate sobre execução penal no Estado.

Com foco no fortalecimento da atuação judicial na execução penal, por meio da troca de experiências, reflexão crítica e construção de soluções conjuntas entre magistradas e magistrados, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização dos Sistemas Prisional e Socioeducativo (GMF) e a Academia Judicial do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, promoveram nesta segunda-feira o 1º Encontro dos Juízes Corregedores de Unidades Prisionais.

O evento, realizado no Auditório Thereza Grisólia Tang, reuniu praticamente todos os magistrados responsáveis pela área no Estado, num dia inteiro de debates e construção conjunta de soluções.

Durante a abertura, o vice-diretor-executivo da Academia Judicial, desembargador Marcos Fey Probst, destacou que o debate da execução Penal é sensível e de primeira ordem, que traz ao Judiciário a necessidade de discussão.

“A execução penal é um tema oportuno e complexo, que merece esse momento de debate e reflexão. É uma área em que o juiz fica limitado, em muitas circunstâncias, à infraestrutura ofertada. Não tem mágica a se fazer quando você não tem uma infraestrutura operacional, de pessoal, que dê guarida para que os magistrados possam, a partir da legislação, dar cumprimento a todos os comandos”, assinalou.

Desafios estruturais e papel do Executivo

O presidente do GMF/TJSC, desembargador Roberto Lucas Pacheco, reforçou que a execução penal envolve desafios que vão da diversidade de entendimentos jurídicos ao papel estratégico do Executivo para reduzir problemas como a superlotação.

“Atuei como juiz corregedor de unidade prisional durante muitos anos, e sempre vislumbrava uma reunião de juízes da área de execução penal. Antes, tínhamos um número muito grande de juízes envolvidos, o que inviabilizava a participação de todos em um evento. Com a regionalização da execução, no entanto, foi possível reunir as magistradas e magistrados corregedores do Estado para essa troca de experiências”, destacou.

Modernização e integração institucional

Falando em nome da Presidência do TJSC, o corregedor-geral da Justiça, desembargador Luiz Antônio Zanini Fornerolli, destacou a implementação do Sistema de Apresentação Remota (Saref) — que deve tornar Santa Catarina o primeiro Estado do país com o sistema 100% implantado até o fim do ano.

“Trabalhamos irmanados, portanto é fundamental a consulta dos senhores à Corregedoria e ao GMF antes das deliberações mais importantes. É um trabalho realizado em conjunto, com a intenção de avanço em prol do jurisidicionado. Nossa missão é tratar com dignidade e dentro das melhores condições aqueles que estão, por nós, encarcerados. Essa á a responsabilidade do Poder Judiciário – notadamente voltada à ressocialização”, afirmou.

Painéis 

A programação da manhã foi concluída com o painel “Mulheres na Execução Penal: desafios e conquistas”, que contou com a participação da coordenadora da Coordenadoria Estadual da Infância e da Juventude (Ceij), desembargadora Rosane Portella Wolf; da coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid), desembargadora Hildemar Meneguzzi de Carvalho; da juíza da Vara de Execuções Penais da comarca de Criciúma, Debora Driwin Rieger; e a juíza da Vara de Execuções Penais da comarca de Chapecó, Marciana Fabris.

À tarde, foi realizado o painel “Políticas Públicas e a Jurisdição da Execução Penal”, com o 2º voce-presidente do TJSC, desembargador Júlio César Machado Ferreira de Melo, e a secretária de Estado de Justiça e Reintegração Social de Santa Catarina, Danielle Amorim Silva; e o workshop “Desafios Atuais da Jurisdição da Execução Penal”.

Depoimentos marcantes

Desembargadora Rosane Portella Wolff, coordenadora da Ceij:

“Vivemos hoje uma realidade que merece reflexão. A presença feminina cresce simultaneamente em duas frentes: o número de magistradas que ingressam, permanecem e assumem liderança na área criminal e na execução penal e, paralelamente, o aumento contínuo da população feminina encarcerada, composta por mulheres que em sua maioria enfrentam vulnerabilidades sociais vínculos familiares fragilizados e responsabilidades maternas amplas.”

Desembargadora Hildemar Meneguzzi de Carvalho, coordenadora da Cevid:

“Quando iniciei, os desafios eram grandes, especialmente para uma mulher. Até hoje, regiões do Estado não estão acostumadas a ver uma mulher como juíza. É preciso se perguntar: ‘o que me trouxe para a magistratura?’ Todos nós temos uma história de vida que está ligada com essa profissão. Se eu entender primeiro as minhas necessidades e o que é que cabe a mim, eu também vou entender o que é que cabe ao outro, e à nossa instituição, que é o Poder Judiciário.”

Juíza da Vara de Execuções Penais da comarca de Criciúma, Debora Driwin Rieger:

“Não há uma doutrina que vai dizer pra você que tem que decidir de um jeito ou de outro no caso da execução penal. A gente não encontra isso em livros. Temos um norte na jurisprudência, mas é isso. Ao mesmo tempo, precisamos ter um posicionamento firme. Todo dia você se depara com uma situação diferente, e terá que ir aprendendo junto com toda sua equipe. Atuar na execução penal é uma das experiências mais formadoras da magistratura. Nos exige mais do que conhecimento jurídico – exige maturidade e, principalmente, sabedoria.”

Juíza da Vara de Execuções Penais da comarca de Chapecó, Marciana Fabris:

É desafiador analisar as prisões domiciliares, até que ponto elas são realmente necessárias. Temos mulheres que cumprem pena e que são mães com filhos pequenos. Mas, ao mesmo tempo, temos que olhar para as vítimas do crime pelos quais foram condenadas – algumas dessas ações criminosas são de grande violência, com consequências traumáticas. A sociedade também espera isso de nós.”

Encerramento

O coordenador do GMF, juiz Rafael de Araújo Rios Schmitt, celebrou o ineditismo e a união dos magistrados:

“É um momento de muita alegria a reunião dos juízes da execução penal de Santa Catarina. Temos a possibilidade de criar um espaço de diálogo entre todos, e de trazer debates importantes como os realizados aqui, com uma programação extensa e muito proveitosa.”

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