
O Brasil deve registrar mais de 73 mil novos casos de câncer de mama em 2025, segundo estimativas do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
A doença continua sendo a que mais atinge mulheres no país — e, em 2023, foram mais de 20 mil mortes, com maior concentração nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
O câncer de mama é imprevisível: não escolhe idade, rotina ou circunstância. Ele chega de forma silenciosa e transforma a vida de quem o enfrenta. Mas, ao mesmo tempo, revela uma coragem capaz de renascer em meio à dor.
É o que mostram as trajetórias de três mulheres da rede municipal de ensino de Florianópolis — Kamilla Bittencourt, Marilene Goulart e Márcia Helena de Souza — que viveram experiências distintas da doença, mas compartilham o mesmo propósito: viver com dignidade, autoestima e esperança.
Kamilla Bittencourt: duas batalhas e a escolha pela vida
Aos 20 anos, Kamilla Bittencourt notou um pequeno nódulo durante o banho — era o início de uma jornada que mudaria tudo. No dia 19 de dezembro de 2003, a professora de Educação Infantil foi diagnosticada com câncer de mama e passou por cirurgia, seguida de quimioterapia e radioterapia.
Treze anos depois, em 2016, a doença voltou — agora na outra mama, em estágio avançado. Kamilla enfrentou uma mastectomia bilateral e um novo ciclo de tratamentos agressivos.
“Você se olha no espelho e não se reconhece mais. É como morrer um pouco para renascer depois”, conta.
Hoje, aos 42 anos, ela fala com serenidade sobre o que viveu.
“A morte bateu na porta, mas eu escolhi viver. A Kamilla não se resume ao câncer. Eu me reconstruí, por dentro e por fora.”
Cada cicatriz, diz ela, é um lembrete de tudo o que sobreviveu.
“Olhar no espelho e ver uma nova mulher é duro, mas também libertador. Sou mais forte do que nunca.”
Marilene Goulart: o diagnóstico inesperado e a reconstrução da autoestima
Em setembro de 2023, durante uma cirurgia de redução de mama, a auxiliar de sala Marilene Goulart viveu um susto: o cirurgião encontrou três nódulos suspeitos e acionou o oncologista para removê-los imediatamente.
Quando acordou da anestesia, veio a notícia — era câncer.
Além do choque, vieram dificuldades financeiras e abalo na autoestima.
“Sempre fui muito vaidosa, e hoje luto contra a insegurança de não me reconhecer mais. A sociedade ainda cobra muito da mulher um padrão de beleza”, desabafa.
Aos 46 anos, Marilene — que já havia enfrentado um câncer de útero aos 17 anos, associado ao HPV — encontrou na terapia psicológica e no amor-próprio o caminho para se reerguer.
“Precisamos nos apalpar, buscar orientação médica e cobrar exames. A prevenção pode salvar vidas.”
Hoje, ela vê sua história como um alerta e um ato de fé.
“Temos o direito de ser frágeis e acolhidas. Amar-se é o primeiro passo para curar-se.”
Márcia Helena de Souza: serenidade em meio às tempestades
Quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama em 2016, aos 43 anos, a pedagoga Márcia Souza já vivia um turbilhão familiar: o marido havia passado por um transplante de fígado, o irmão enfrentava problemas pulmonares e a tia lutava contra um câncer de intestino.
Mesmo em meio ao caos, o diagnóstico precoce foi decisivo. Márcia passou por uma cirurgia de quadrante, preservando a mama, e realizou 30 sessões de radioterapia.
Durante o processo, recebeu apoio constante de sua equipe médica e da família.
“Meu marido me disse: ‘Não te preocupa, são marcas da vida. São marcas das nossas batalhas’”, lembra emocionada.
Hoje, aos 52 anos, ela cultiva a gratidão como filosofia de vida.
“A vida é uma só. Às vezes valorizamos o que não precisa. É olhar os pequenos detalhes — o mar, a chuva, o vento, o sol — e viver um dia de cada vez.”
Três estágios, um mesmo propósito
Cada uma dessas mulheres enfrentou o câncer em um momento e intensidade diferentes: Márcia o venceu no início, Kamilla encarou o estágio avançado, e Marilene descobriu o tumor por acaso.
Mas o destino as uniu em um mesmo aprendizado: a luta pela vida e pela autoestima.
Seus relatos lembram que o câncer de mama não é apenas uma doença — é um divisor de águas que convida à reflexão, à solidariedade e ao autocuidado.
Mais do que cicatrizes, suas histórias deixam marcas de coragem, fé e recomeço.